Aldeia de Pescadores - Di Cavalcanti
Caminho pelo imenso salão em meio à pouca luz
Ouço o som suave de um sax que chora um dó maior meigo
O prédio, envolto em estrutura aluminisada e pele de vidro. E posso, assim
Ver toda a cidade de Havana, seus cassinos e mansões à beira mar, os
Automóveis luxuosos, nessa noite fresca de abril, em 1942.
O run forte me rasga a garganta como o sax faz com a noite
E esses benditos charutos de campanha, depois das ostras.
Estranho como estou só, nesse terno riscado elegante e meu chapéu de agave...
Daqui do alto desse avarandado entregue ao sabor de estrelas
Tremo ao som suave de um violoncelo rígido em um si bemol pleno
Essa residência centenária cravada no seio da rocha se inclina sobre "il mare"
Nápole tem cheiro de história e mistério, sob os chapéus de feltro
Homens sérios e mulheres misteriosamente ocultas me encantam, no verão 1943
Um vinho sêco, com minha idade, enfeita o naco de javali assado
sob o queijo de provence
E esses benditos charutos de campanha, depois do chocolate quente
Estranho como estou só, nesse meu terno negro que copiei de Antonione
Aqui há tanta luz à ofuscar minh’alma, que pisa esse frio mármore secular
Um piano encantador e um bandallion argentino, em lá menor, suavizam meus músculos mais íntimos
Nesse apartamento encantadoramente simples em Montmartre, arredores de Paris
Observo as ruas e vielas, o cheiro de arte, músicas, amor e sonhos
Vejo discretas senhora suspeitas a convidar-me ao ócio da aventura,
nesse outono de 1944
Comprei flores primaveris e queijos rústicos de armazém, que agridem o champagne escuro
E esses benditos charutos de campanha, após um sorvete de fruta exótica da África
Estranho como estou só, descalço, nesse jeans azul como o céu da França
Acordo nessa praia abandonada, estreita, da Urca. Semi-nu, manhoso e com um calor do
qual já havia esquecido.
Ouço um som ao longe. Um violão dolente? Um tamborim vadio?
As matas descem o pequeno morro e deitam-se sobre a praia, invadem o mar, como cabelo de mulher
Assaz bêbado tenho fome e quero pães quentes com queijo branco de empório
Preciso de uma mulher, no verão louro do Rio, nesse fevereiro de 1945
Tenho pouco dinheiro nos bolsos e não mais os quadros de Matisse, Monet, Goya, Gauguin, Renoir
Os benditos charutos de campanha, que o guerrilheiro me deu, acabaram-se
É compreensível que eu esteja só, nessa calça branca de marinheiro? É carnaval e a GUERRA ACABOU!
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